quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Transporte Ferroviário como Alternativa


O transporte urbano nas cidades brasileiras está passando por uma fase semelhante a que ocorreu em outros países, caracterizada pelo aumento do uso do transporte individual em detrimento do transporte coletivo. Nesse tipo de modelo, o resultado em geral é muito ruim, porque gera externalidades negativas como poluição, acidentes no trânsito, congestionamento e o rompimento das relações sociais que transformam a sociedade num ambiente muito mais agressivo e muito menos adequado para a população, onde predomina o desrespeito às leis e ao próximo. E diversos são os fatores que contribuíram para a ineficiência do sistema de transporte urbano das grandes cidades, onde podemos destacar: o crescimento desordenado das cidades, principalmente nas periferias; a concentração da população nas cidades; a construção das cidades baseadas no uso diário do automóvel; a não priorização dos modos não motorizados e coletivos; o aumento do número de veículos, principalmente as motocicletas; falta de integração entre os sistemas, os modos e os órgãos gestores de transporte e trânsito; falta de projetos integrados e que possibilitem a construção de um sistema de longa duração; redes que não atendem às necessidades dos usuários, dentre outros.
Um dos maiores desafios que hoje estão colocados, sob o ponto de vista do planejamento urbano é a questão da mobilidade. O trânsito está ficando insuportável e isso não acontece só nas grandes cidades já é realidade na região do Cariri. Defendo que o transporte coletivo deve ser priorizado frente ao transporte individual. Não sou favorável à proibição do indivíduo de sair com seu automóvel de casa, pois é um direito que todo cidadão tem, mas o que é preciso fazer é criar medidas que tornem atrativo o uso do transporte coletivo, tornando-o mais rápido, seguro e confortável. E é na tentativa de resolver o problema do transporte de massa que surge o trem urbano ou metrô.
O crescente processo de urbanização que experimenta a região, o intenso turismo religioso e a forte ligação histórica do Cariri com o transporte ferroviário de passageiros são argumentos que por si só já justificam a implantação do metrô do Cariri. O trecho inicial que ligará a cidade de Crato a Juazeiro do Norte é formado por uma malha ferroviária de 13,6Km de extensão e composta por nove (9) estações sendo quatro (4) no Crato e cinco (5) em Juazeiro do Norte.Inicialmente a frota será composta por duas composições climatizadas do tipo VLT - Veículo Leve sobre Trilhos, sistema largamente utilizado na Europa e na Ásia, com capacidade para transportar até 330 passageiros por composição com uma velocidade operacional de 60km/h e com motor à diesel.
Mas, diante de tanta modernidade, será que o metrô do Cariri resolverá o problema do transporte urbano da região? Decerto que não, mas já é um bom começo, haja vista que em muitos países desenvolvidos as redes metroviárias constituem a base dos seus respectivos sistemas de transporte público. No Cariri a implantação do metrô é uma medida que visa complementar o transporte coletivo entre as cidades de Crato e Juazeiro do Norte, atualmente feito por ônibus e topiques. Muito ainda há que ser feito como a implantação de linhas entre bairros que é muito deficitária nas cidades de Crato e Barbalha, bem como a implantação de políticas públicas de acessibilidade.
É fato que as grandes metrópoles a cada dia crescem mais e urge que o transporte público seja alçado ao patamar dos direitos sociais garantidos pela Constituição Federal, sendo equiparado à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, entre outras políticas públicas. Essa mudança de mentalidade é vital e representa um dos grandes desafios dos nossos governantes.

Autor: Jefferson Luiz Alves Marinho
Professor e Coordenador do Curso de Construção Civil da URCA
Artigo publicado no Jornal do Cariri - Ano XI - N° 2372 de 7 a 13 de abril de 2009