Qual a relação entre o forte crescimento do mercado imobiliário do Cariri e a crise do mercado imobiliário norte-americano ?
De acordo com artigo publicado na Revista Construção - Edição de Julho:
" O embalo com que o mercado imobiliário do Brasil vem crescendo nos dois últimos anos tem gerado desconfianças sobre sua sustentabilidade no longo prazo. A preocupação é alimentada, ainda, por algumas semelhanças entre esse fenômeno e a recente bolha imobiliária norte-americana (veja artigo O estouro da bolha norte-americana, nesta edição). O otimismo ainda impera no setor, mas a desconfiança está presente: o mercado estaria vivendo um início de bolha imobiliária?A primeira constatação de quem acompanha o setor é a de que o mercado imobiliário brasileiro não vive um momento repentino de crescimento do volume de negócios e dos preços. A maioria dos especialistas entrevistados garante que o desenvolvimento é gradual e sustentado. Para que uma bolha seja caracterizada é preciso, em suma, que haja um forte descasamento entre oferta e demanda. Ao que tudo indica, não é o que acontece no mercado imobiliário brasileiro. Não se pode falar em excesso de oferta imobiliária frente à demanda em um País com déficit habitacional tão grande, seja por falta de moradia propriamente dita, seja por inadequação das moradias existentes, avalia Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria. Ela lembra que o que pode ocorrer são problemas regionais (até mesmo em determinados bairros de uma cidade), mas não de uma maneira geral, em todo o território nacional. Talvez se possa falar também em problemas de excesso de imóveis de uma determinada faixa de preço, mas o mercado tende a ajustar essas imperfeições.O diretor de crédito imobiliário do banco HSBC, Roberto Sampaio, também acredita que o crescimento tem sustentação. A demanda ainda é maior que o volume de lançamentos, visto que, por longo tempo, ela vinha reprimida pela escassez de novos lançamentos. Para Sampaio, o mercado precisa de mais empreendimentos. O mercado ainda está carente de unidades de baixo, médio e, até mesmo, de elevado padrão. Em 2007, o setor prevê ampliar o número de lançamentos em mais de 50% em relação a 2006. O mercado no Brasil, nos últimos dez ou 20 anos, amadureceu. Crestana sustenta que esse amadurecimento aumentará o volume de produção habitacional durante algumas décadas. Haverá mais que apenas um boom imobiliário. Poucas semelhanças. Não houve quem, nos últimos tempos, não avaliasse o fenômeno da bolha imobiliária nos Estados Unidos e tentasse comparar com o mercado brasileiro. No entanto, segundo analistas, as semelhanças são poucas. Amaryllis recupera relatório feito no bojo do que se chamou crise do mercado imobiliário norte-americano para ressaltar que o que houve foi o estabelecimento de uma tendência de desaceleração do mercado imobiliário nos Estados Unidos, que teve, inclusive, uma dinâmica contrária a vários setores da economia local. No mercado americano, explica Sampaio, do HSBC, a hipoteca é a base do crédito de consumo, o que provocou aumento artificial no preço dos imóveis, gerando um realinhamento que, segundo o diretor, poderá ter graves conseqüências caso o preço dos imóveis diminua ainda mais. No Brasil, o imóvel é tido como bem de capital, e o volume de crédito/capital de giro concedido com base nesse tipo de garantia ainda é irrisório.De acordo com relatório da Tendências Consultoria, os dados de desempenho do mercado imobiliário americano, apesar de lançarem alguns indícios negativos, ainda não mostram um cenário de problemas generalizados. O relatório aponta também que ão há problemas em todas as regiões do País, o que não permite a caracterização de uma crise setorial ou mesmo de uma ampla crise de inadimplência. O Brasil está distante dessa situação e o que houve nos Estados Unidos foi uma combinação de crescimento forte com excesso de crédito. Essa combinação inflacionou o preço dos imóveis, mas, em alguns lugares, houve ajustes, embora não tenham sido distorções muito acentuadas. Sampaio, do HSBC, complementa ressaltando que, no mercado dos Estados Unidos, o endividamento do cidadão pode fazer com que o mesmo tenha dificuldade de solvência, o que provocaria uma redução nos preços dos imóveis e conseqüentemente um furo na bolha imobiliária, com conseqüências nefastas para a economia americana. No Brasil, os fundamentos são outros e poucos imóveis são securitizados. Os formatos são bastante diferentes. Se o crescimento do mercado imobiliário brasileiro não tem as características de uma bolha, então podemos apostar em mais crescimento para os próximos anos? Ao que tudo indica, sim. E um dos propulsores deve ser o investimento estrangeiro. Roberto Akazawa, gerente do departamento de economia e estatística do Secovi-SP, ressaltou recentemente em artigo que o momento do Brasil é de otimismo, com expansão do crédito habitacional e viabilização de capitalização das empresas com recursos vindos até do exterior. Mas qual o elemento que motiva tal otimismo apresentado também pelas consultorias imobiliárias aos estrangeiros? É o déficit habitacional brasileiro, responde Sampaio. Outro ponto, completa, é o retorno para o investidor em imóveis que pode ser interessante.As bases dos relatórios otimistas vendidos ao exterior são as condições macroeconômicas favoráveis, sustenta Amaryllis. De acordo com a analista, problemas podem advir de opções corporativas incorretas em termos de região de atuação ou tipo de empreendimento. Mas, aí, entra a competência do analista de investimento estrangeiro para analisar e fazer a melhor opção de investimento. Para ela, pode até haver algum mico, mas as condições gerais e relativas a outros mercados emergentes são extremamente favoráveis, pelos fatores já mencionados. Com a atual liquidez internacional, acredito que o mercado imobiliário brasileiro seja uma boa opção de investimento.Para o gerente de investimentos da CBC Richard Ellis, Edson Ferrari, o mundo hoje está em liquidez acentuada. Obrigatoriamente, portanto, os investidores diversificam seus investimentos. Ricardo Yazbek, presidente da Fiabci (Federação Internacional das Profissões Imobiliárias), expôs com entusiasmo o interesse internacional pelo mercado brasileiro. Para ele, os investidores perceberam que a realidade brasileira de hoje tem na democracia, nas suas características culturais, a base para solidificar a crença de que o Brasil é um bom lugar para investimentos. O Brasil realmente está na moda.No mês de maio, representantes do setor da construção civil debateram o tema na Amcham (Câmara Americana de Comércio). Na abertura do seminário O Brasil a caminho do boom imobiliário, o diretor da Amcham, Arthur Vasconcellos, ratificou, todavia, que o Brasil está longe do que, por exemplo, ocorreu no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Ainda será necessário muito investimento.Pode ser, mas quem está no setor não esmorece. O presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), Melvyn David Fox, ressalta que o índice que reflete os números do mercado de materiais de construção mostrou que, nos últimos dez meses, ocorreu um crescimento que não se via desde 2005. Para David Fox, os bons números podem ser atribuídos a medidas tomadas pelo governo em 2006. O setor, hoje, está bem posicionado.Um exemplo de número que comprova o crescimento são os dados do índice Abramat. No mês de abril, o faturamento bruto das vendas dos materiais de construção no mercado interno cresceu 19,53% em relação ao mesmo mês em 2006, embora tenha havido queda de 7,60% ao comparar com março deste ano. O faturamento acumulado desde janeiro até abril ficou 8,98% acima do mesmo período do ano passado. Segundo a entidade, tal crescimento reforça a expectativa de que o ano de 2007 feche com resultados pelo menos 8% superiores aos de 2006".
Fonte: Revista Construção - Edição de Julho
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
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