Em recente fórum da revista Téchne, leitores ascenderam a polêmica sobre a realização de avaliações imobiliárias por profissionais não habilitados. Embora essa discussão seja antiga no setor, a escassez de engenheiros estaria agravando esse problema. Apesar de uma lei específica atribuir a competência aos profissionais do Confea, o presidente do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), José Augusto Viana Neto, acredita que as atribuições dos corretores vão além da mera venda. Tito Lívio Ferreira Gomide, ex-presidente do IBAPE-SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo) diz que os corretores estão indo muito além de apenas dar uma opinião. Confira o que disseram os entrevistados:
Os profissionais associados ao Creci possuem a prerrogativa de avaliar um imóvel?
José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP - Sabemos da capacidade dos nossos inscritos em realizar avaliações. O corretor não pode ser considerado apenas um vendedor de imóveis, visto que nossa atividade envolve inúmeros outros atos além da venda em si, como pesquisa sobre a documentação do imóvel, inspeções a fim de constatar as condições e definir o valor de mercado das propriedades. Por exercer tais atividades de forma rotineira, e ainda possuindo em seu currículo um curso específico de avaliações imobiliárias, o corretor torna-se, sem dúvida, um especialista no assunto.
Em que situações esses profissionais estão aptos a emitir um parecer?
Neto - A legislação processual de forma simples estabelece que o perito em avaliações deva ter conhecimento técnico ou científico. Assim, a avaliação de imóvel não é atribuição privativa de engenheiro. Cito, como exemplo, uma decisão da Justiça de Santa Catarina sobre o assunto: A avaliação de imóveis não demanda conhecimentos específicos de engenharia, arquitetura ou agronomia. Para se determinar o valor de um imóvel, é necessário o conhecimento do mercado imobiliário local e das características do bem, matéria que não se restringe àquelas áreas de conhecimento, podendo ser aferida pelos corretores de imóveis ou outros profissionais com conhecimento sobre o tema. Dessa forma, o Provimento da Corregedoria Geral da Justiça de Santa Catarina, o qual possibilitou a realização de perícias judiciais por corretores de imóveis, não feriu direito líquido e certo dos profissionais inscritos no CREA, pois a avaliação de imóveis não é ato privativo desses profissionais (Rec. Esp. nº 277443 STJ decisão monocrática julgado em 11.06.2002).
O Creci já identificou a atuação irregular de associados nessa questão?
Há algum trabalho para evitar que eles atuem em questões de engenharia?
Neto - Em nenhum momento, o Conselho Regional identificou atuação irregular de seus inscritos no que se refere à avaliação de imóveis. Mesmo porque, o Creci-SP é um órgão de fiscalização das atividades imobiliárias, trabalhando ao lado da Justiça no sentido de coibir a atuação de pseudoprofissionais.
profissionais associados ao Creci possuem a prerrogativa de avaliar um imóvel?
Tito Lívio Ferreira Gomide - ex-presidente do Ibape-SP- Os corretores desejam avaliar um imóvel desde a sanção da lei em 1978. Está escrito nela que eles podem opinar em questões de avaliações. Um engenheiro possui conhecimento para determinar se a escadaria atende a legislação, se os elevadores atendem o trafego e a situação desses equipamentos, por exemplo. A avaliação é baseada em pelo menos três fatores: o primeiro é a inspeção do bem, ou vistoria. Nela sabemos as condições das instalações, da fundação. O segundo ponto é uma pesquisa relacionada a bens similares. O último é determinar a metodologia científica para considerar diversos pontos que podem valorizar ou desvalorizar o empreendimento. Há diversas formas para realizar uma avaliação, mas é uma ciência. O corretor não está preparado para essa complexidade.
Em que situações esses profissionais estão aptos a emitir um parecer?
Gomide - Como dito antes, eles podem apenas opinar. Eles palpitam, mas transformam isso em avaliação. Em termos jurídicos, é apenas uma prova testemunhal, ao contrário de um perito. O palpite é algo bom, mas são necessárias referências. Se o corretor conhece um apartamento e sabe das características, da região, consegue opinar de forma coerente. Entretanto, não pode dizer tecnicamente qual é a condição do empreendimento. A avaliação é cara, em uma residência talvez o palpite seja bom. Já o investidor não aceita isso, ele deseja uma visão técnica.
Participe do fórum: Corretores têm condições de avaliar imóveis?
Veja o que dizem as leis:
A lei nº 5.194, decretada em 24 de dezembro de 1966, regula as atribuições dos engenheiros, arquitetos e agrônomos, entre as quais, a de avaliações de imóveis, e delega tal responsabilidade ao Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).
A NBR 14.653 também atribui a responsabilidade aos profissionais relacionados aos Creas (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).
Outra lei que pende essa questão para os engenheiros é o próprio código que regula a profissão de Corretores de Imóveis lei nº 6.530, de 12 de maio de 1978. Ela determina que esse profissional intermediará a compra, a venda, a permuta e a locação de imóveis, podendo, opinar quanto à comercialização imobiliária.
Uma leitura complementar pode ser realizada com o CPC (Código de Processo Civil). Nos processos jurídicos, serão considerados peritos, os profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente. Os técnicos em transações imobiliárias possuem nível secundário em sua grande maioria. Na tentativa de solucionar esse entrave, o Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis) e o Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) criaram os cursos nas Áreas das Ciências e Gestão de Negócios Imobiliários. "Eles se aproveitaram de uma brecha do MEC e do Ministério da Educação e criaram cursos de curta duração, que não possuem elementos de engenharia", critica Paulo Grandiski, engenheiro membro do IBAPE-SP e um dos autores da NBR 14.653.
Artigo publicado na PINIweb, em 29/Abril/2008, pelo repórter Rafael Frank, com o título: Engenheiros acusam profissionais sem Crea de fazer avaliações de imóveis
7 comentários:
As leis definem claramente:
Os profissionais da engenharia, estão por dentro do custo, das condições e caracteriticas construtivas, e são hábeis nas pesquisas e homogeneização dos elementos comparativos, dái, são os verdadeiros avaliadores.
Os corretores, que apesar de poderem opinar sobre valores, são induzidos pelo mercado que normamente tem valores fixados pelos vendedores, que sem terem condições técnicas de argumentar sobre o tipo de construção, conservação, vicios,etc..., certamente darão uma opinião equivicada, sendo que na maioria das vezes CONCORDAM com os vendedores, tumultuando o mercado imóbiliário.Corretores são bons profissionais para vender imóveis e não para avaliar
Sou engenheiro e corretor
Ao comprar ou vender um imóvel, contrate um corretor de sua confiança (6%).
Porém, antes de realizar o negócio, consulte um engenheiro esperiente em avaliações, para ter certeza sobre o real valor do imóvel(em torno de 1%).
Cada um na sua, é bom pra todos
otima tarde para todos!
sou corretor de imoveis e estudante
de direito,buscando assim,ter mais
intendimento e gerar mais credibilidade profissional.acredito que tanto o creci quanto o crea buscam a valorização profissional e
melhor atender as determinações das
normas editadas em nossa constituição.Sendo assim deveriamos ter um projeto de união das classes em foco ao ESTADO. quem sabe ate mesmo criando uma mini taxa em reciprocidade para que as duas classes ratificase a polemica avaliação,desta forma toda a sociedade sairia ganhando.
Cada um puxando a sardinha para o seu lado. Para mim, um engenheiro que vive de fazer avaliação (no caso a Caixa paga R$ 250 por avaliação) é um engenheiro que não teve competência para se firmar no mercado... em outras palavras... é um coitado!
O engraçado é que os tão espertos engenheiros para elaborarem o parecer, sempre pedem a opinião aos corretores...
Sou Corretor de Imóveis e alguns engenheiro civís já me pediram ajuda.
Porque eles haviam utilizado o CUB do meu estado, aplicando a devida depreciação, porém, sempre chegando a um valor muito abaixo do mercado, já que aqui os imóveis estão com seus preços comercialmente muito elevados.
Para ajudá-los eu sempre fiz devida pesquisa de mercado utilizando o método da amostragem, observando o valor depreciável, vida útil de um Bem, idade real, vida remanescente, valor residual, etc. Fazendo o devido tratamento das informações, procedimentos e fatores de homogeneização, chegava-se ao valor ideal do imóvel.
Tanto os conhecimentos técnicos desses engenheiros civís ou arquitetos, quanto os meus conhecimentos de mercado e técnicas de avaliações, foram úteis para se chegar a uma boa avaliação.
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